A metade de todos os cânceres poderia ser evitada se as pessoas
adotassem estilos de vida mais saudáveis, afirmaram cientistas
americanos em um estudo publicado nesta quarta-feira (28).
O tabagismo é responsável por um terço de todos os casos de câncer nos
Estados Unidos e até três quartos dos casos de câncer de pulmão no país
poderiam ser evitados se as pessoas não fumassem, destacaram em artigo
publicado na revista "Science Translational Medicine"
Estudos científicos já demonstraram que muitos outros tipos de câncer
também podem ser evitados, seja com vacinas, como por exemplo as
disponíveis contra o HPV (papilomavírus humano) e a hepatite, que podem
provocar câncer de colo do útero e de fígado, ou com proteção contra a
exposição ao sol, que pode causar câncer de pele.
O conjunto da sociedade deve reconhecer a necessidade destas mudanças e
levá-las a sério na tentativa de desenvolver hábitos mais saudáveis,
alertaram os pesquisadores.
"É hora de investirmos em aplicar o que sabemos", disse a principal
autora do artigo, Graham Colditz, epidemiologista do Centro Oncológico
Siteman da Universidade de Washington em St. Louis, no Missouri.
Praticar exercícios, comer bem e não fumar são hábitos chave para
evitar quase a metade das 577.000 mortes por câncer nos Estados Unidos
previstas para este ano, um número superado apenas pelas doenças
cardíacas, acrescentou o estudo.
Mas os especialistas destacaram uma série de obstáculos para as
mudanças de hábito em uma sociedade na qual, segundo estimativas, foram
diagnosticados mais de 1,6 milhão de casos de câncer este ano.
Entre os obstáculos, destacaram o ceticismo de que o câncer pode ser
evitado e o hábito de intervir tarde demais para deter ou prevenir um
tumor maligno já instalado.
Além disso, grande parte das pesquisas sobre o câncer se concentra no
tratamento no lugar da prevenção, e tende a ter uma visão de curto prazo
no lugar de um enfoque de longo prazo.
"Os seres humanos são impacientes e esta característica humana, em si, é
um obstáculo para a prevenção do câncer", ressaltou o estudo.
As grandes diferenças de renda entre as classes sociais altas e as
baixas, que fazem com que os pobres tendam a ficar mais expostos a
fatores de risco do que os ricos, complicam ainda mais o panorama.
"A contaminação e a delinquência, o transporte público deficiente, a
falta de parques para brincar e fazer exercícios e a ausência de
supermercados com alimentos frescos dificultam a adoção e a prática
constante de um estilo de vida que reduza ao mínimo o risco de câncer e
outras doenças", destacou o estudo.
"Assim como nos outros países, a estratificação social nos Estados
Unidos exacerba as diferenças de estilo de vida, como o acesso a
cuidados de saúde, a prevenção especial e os serviços de detecção
precoce", informaram os especialistas.
"As mamografias, os exames de cólon, o apoio para a dieta e a nutrição,
os recursos para parar de fumar e os mecanismos de proteção solar
simplesmente estão menos disponíveis para os pobres", acrescentaram.
Isto significa que qualquer tentativa de superar as profundas
desigualdades sociais deve ser apoiada por mudanças de política, disse
outra autora do estudo, Sarah Gehlert, da Escola de Trabalho Social e da
Escola de Medicina da Universidade de Washington.
"Depois de trabalhar em saúde pública durante 25 anos, aprendi que se
quisermos mudar a saúde, temos que mudar as políticas", disse.
"Uma política estrita sobre o tabaco é um bom exemplo. Mas não podemos
fazer a mudança de política por nossa conta... O que se requer é uma
massa crítica de pessoas para falar com mais firmeza sobre a necessidade
de uma mudança", acrescentou.
Fonte www.g1.globo.com
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