Uma doença misteriosa está afetando o desenvolvimento físico e mental de crianças em Uganda.
A doença ficou conhecida no norte de Uganda como Síndrome de Nodding, o
nome em inglês dado ao movimento para cima e para baixo que se faz com a
cabeça como quando se concorda com algo.
Entre os sintomas apresentados pelas crianças atingidas pela doença
estão convulsões frequentes, problemas de fala e falta de força para se
manter em pé, além de permanecer em um estado parecido com um transe
durante as crises.
De acordo com o repórter da BBC enviado ao norte do país africano Will
Ross, mais de 3 mil casos foram registrados na região e o governo do
país já estabeleceu centros com exames específicos para detectar a
doença.
As famílias fazem fila no hospital da cidade de Kitgum e, nas
enfermarias, estão crianças com queimaduras graves, que tiveram
convulsões perto de fogueiras acesas para cozinhar e não conseguiram se
afastar.
Uma enfermeira afirmou que algumas crianças desenvolvem um tipo de
psicose e saem de casa perambulando pelas ruas. Muitas não voltam,
algumas morrem de fome.
'Estamos ficando estressadas, lidando com esta situação traumática.
Você encontra novos casos todo dia, crianças tendo convulsões, outras
caindo. Como ser humano você sente a dor', disse Josephine Adong,
enfermeira do setor psiquiátrico do hospital de Kitgum.
'Tantos morreram e outros estão em estado grave (...). Alguns estão
fracos demais, sem conseguir comer, sem conseguir andar. Se eles não
forem levados para o hospital, as chances são grandes de que alguns
morram nos próximos dias', acrescentou.
Década de 60
Casos da doença já tinham sido registrados na Tanzânia na década de 60
e, nos últimos anos, o Sudão do Sul também teve casos da Síndrome de
Nodding.
Apesar do impacto da doença, as autoridades de saúde ainda estão tentando encontrar a causa e também a cura.
Como alguns dos sintomas são parecidos com os da epilepsia,
funcionários do setor de saúde receitam medicamentos anticonvulsivos,
usados para lidar com as convulsões epiléticas.
No norte de Uganda as autoridades começaram a usar o valproato de
sódio, um medicamento também usado em casos de epilepsia. Os médicos
destacam que algumas crianças que receberam estes medicamentos
apresentaram melhoras e tiveram menos convulsões.
Mas, quando uma criança afetada pela síndrome chega neste estágio, seu desenvolvimento já foi afetado de forma irreversível.
Em novembro de 2009 o governo de Uganda pediu ajuda do Centro para
Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados
Unidos. Especialistas americanos visitaram a área atingida e levaram
amostras para exames, mas ainda estão lutando para descobrir a causa da
doença.
'As equipes do CDC documentaram pela primeira vez a Síndrome de Nodding
como uma nova e complexa síndrome epilética e que o movimento da cabeça
era uma manifestação direta de convulsões que causam um breve lapso na
contração muscular devido a alterações na função cerebral', afirmou a
organização americana.
'Crianças vivendo em condições de maior pobreza, nas quais não há
alimentos o bastante, água limpa ou condições decentes de habitação
parecem estar mais suscetíveis a esta condição', acrescentou o CDC.
O norte de Uganda é uma região que foi devastada pela guerra mas agora
está pacificada. No entanto, as famílias ainda vivem em condições de
muita pobreza.
Betty Olana vive no vilarejo de Tumangu, muito próximo de Kitgum. Dois
filhos dela, Sarah, de 14 anos, e Moses, de 12, foram afetados pela
síndrome e parecem bem mais novos.
Eles precisam de cuidados o tempo todo, não conseguem tomar banho ou se vestir sozinhos.
'Quando vou para a fazenda, amarro os dois a uma árvore, para que eles
não se machuquem. Se saem andando, eles não sabem onde vão, apenas
continuam e se perdem', conta Betty Olana ao repórter da BBC.
Quando ela traz uma bandeja com uma travessa de mingau, Sarah e Moses
lavam as mãos e começam a comer, mas, depois de minutos a cabeça de
Moses começa a cair, os olhos fecham e ele entra em um estado parecido
com um transe.
Alimentos, calor ou clima frio parecem desencadear as crises.
'Já perdi as esperanças. Apenas cuido de Sarah e Moses como se eles
fossem flores dentro de casa, sabendo que eles não serão úteis no
futuro', disse Betty.
Fonte www.g1.globo.com
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